1- A filosofia kantiana da história;
2-Constituição e Democracia;
3-A mercadoria, introdução a O Capital de Karl Marx;
4- A construção dos conjuntos numéricos em Zermelo-Fraenkel;
5- Nietzsche e Wittgenstein: reflexões e convergências;
6-Husserl e a tradição fenomenológica.
Segue abaixo os projetos completos dos mini-cursos:
1-Mini-curso: A filosofia kantiana da história
Ministrante: Joel Thiago Klein (doutorando -UFSC)
OBJETIVO GERAL: Apresentar e discutir a filosofia kantiana da história e sua relação com o restante da filosofia crítico-transcendental.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: - Analisar os pressupostos teóricos e teleológicos de uma História universal; - Discutir os pressupostos práticos da filosofia da história; - Apresentar as relações existentes entre o projeto da Aufklärung e as concepções políticas que se estabelecem no horizonte de uma perspectiva de progresso histórico; - Argumentar sobre os motivos de Kant ter se lançado na empresa de defender o projeto de uma História universal;
METODOLOGIA: - Leitura, análise e discussão das teses e argumentos que Kant oferece nos textos dedicados direta e indiretamente ao tema da História universal.
TEXTOS A SEREM TRABALHADOS: KANT, I. Resposta à pergunta: que é esclarecimento?
_____. Idéia de uma história universal com um propósito cosmopolita.
_____. Início conjectural da história humana.
_____. Sobre o dito comum: isso pode ser correto na teoria mas não serve para prática. (Terceira parte: Da relação da teoria à prática no direito das gentes, considerando do ponto de vista filantrópico universal, isto é, cosmopolita. Contra Moses Mendelssohn).
_____. O conflito das faculdades. (Segunda parte: conflito da faculdade da Filosofia com a faculdade Jurídica).
BIBLIOGRAFIA BÁSICA KANT, I. Beantwortung der Frage: Was ist Aufklärung? In: Akademie Textausgabe, Bd. VIII. Berlin: de Gruyter, 1968. Tradução Artur Morão. In: A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 2004.
_____. Der Streit der Fakultäten. In: Akademie Textausgabe, Bd. VII. Berlin: de Gruyter, 1968. Tradução Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1993.
_____. Idee zu einer allgemeinen Geschichte in weltbürgerlicher Absicht. In: Akademie Textausgabe, Bd. VIII. Berlin: de Gruyter, 1968. Tradução Artur Morão. In: A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 2004.
_____. Muthmaβlicher Anfang der Menchengeschichte. In: Akademie Textausgabe, Bd. VIII. Berlin: de Gruyter, 1968. Trad. Joel Thiago Klein. In: Ethic@, v.8, n.1, p. 157-168, 2009.
_____. Über den Gemeinspruch: Das mag in der Theorie richtig sein, taugt aber nicht für die Praxis. In: Akademie Textausgabe, Bd. VIII. Berlin: de Gruyter, 1968. In: A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 2004. BIBLIOGRAFIA SECUNDÁRIA KANT, I. Anthropologie in pragmatischer Hinsicht. In: Akademie Textausgabe, Bd. VII. Berlin: de Gruyter, 1968. Tradução Cléia Aparecida Martins. São Paulo: Iluminuras, 2006.
_____. Erste Einleitung in die Kritik der Urteilskraft. In: Akademie Textausgabe, Bd. XX. Berlin: de Gruyter, 1942. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. In: Kant II. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção os pensadores)
_____. Grundlegung zur Metaphysik der Sitten. Einl. und Hrsg. von Bernd Kraft und Dieter Schönecker. Hamburg: Felix Meiner, 1999 (Philos. Bibliothek Bd. 519). Tradução de Paulo Quintela. In: Kant II. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção os pensadores)
_____. Kritik der reinen Vernunft. Hrsg. von Jens Timmermann. Hamburg: Felix Meiner, 1998. (Philos. Bibliothek Bd. 505). Tradução da edição B de Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. In: Kant I. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção os pensadores)
_____. Kritik der praktischen Vernunft. Hrsg. von Horst D. Brand und Heiner F. Klemme. Hamburg: Felix Meiner, 2003. (Philos. Bibliothek Bd. 506). Tradução de Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
_____. Kritik der Urteilskraft. Hrsg. von Heiner F. Klemme. Hamburg: Felix Meiner, 2006. (Philos. Bibliothek Bd. 507). Tradução de Valerio Rohden e António Marques. 2.ed. Rio de Janeiro: Florense Universitária, 2002.
_____. Pädagogik [herausgegeben von Friedrich Theodor Rink]. In: Akademie Textausgabe, Bd. IX. Berlin: de Gruyter, 1968. Tradução de Francisco Cock Fontanella. 4.ed. Piracicaba: UNIMEP, 2004.
_____. Recensionen von I. G. Herders Ideen zur Philosophie der Geschichte der Menschheit. Theil 1. 2. In: Akademie Textausgabe, Bd. VIII. Berlin: de Gruyter, 1968.
_____. Zum ewigen Frieden. In: Akademie Textausgabe, Bd. VIII. Berlin: de Gruyter, 1968. Tradução Artur Morão. In: A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 2004.
2-MINICURSO: CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA
MINISTRANTES: Cristina Foroni Consani (Doutoranda em Filosofia – UFSC)
Priscilla Aguiar Sena de Miranda (Mestranda em Filosofia – UFSC)
1- JUSTIFICATIVA: A relação entre Constituição e Democracia retoma uma antiga questão da filosofia política, extremamente cara ao pensamento republicano: a defesa do império da lei frente ao império dos homens. A defesa do império da lei, tema bastante discutido na modernidade mas cujas raízes podem ser encontradas na antigüidade clássica, no pensamento político de Aristóteles e Cícero, guarda uma profunda conexão com uma concepção pessimista da natureza humana e com a decorrente necessidade de se encontrar um freio capaz de moderar as paixões. Dessa forma, acredita-se que a existência de leis que estabeleçam limites à vontade humana seja a medida de um governo adequado para assegurar o interesse público e também o exercício da liberdade, uma vez que esta é compreendida como a possibilidade de ação sem interferência arbitrária de outros. Esse é também o cerne da discussão que resulta no conflito entre democracia e constitucionalismo. A democracia implica a participação do povo nas decisões inerentes à comunidade política. A Constituição representa o mecanismo que baliza o processo de deliberação pública, justamente por considerar os dois problemas acima apontados a partir da filosofia política clássica e moderna: a natureza humana e as paixões. É com o intuito de evitar a alteração da lei constitucional durante processos de exaltação popular que o próprio texto constitucional estabelece mecanismos que impedem ou dificultam a mudança de direitos considerados fundamentais. Na teoria política da atualidade alguns autores têm entendido ser possível a elaboração de uma resposta capaz de conciliar os dois ideais em questão
[1]. Acreditam que o estabelecimento de um rol de temas inatingíveis pelas decisões populares, como os direitos e garantias individuais, é capaz de proteger o próprio processo de participação política. È possível então perguntar: a quem cabe a decisão das questões de fundamental importância para a vida política de um Estado? Pode uma Carta Política – a Constituição – elaborada pela geração passada regular a vida das gerações futuras? Ou é necessário que o compromisso seja renovado por aqueles que deverão submeter-se a ele? Sendo o Judiciário o responsável pela guarda dos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição, qual a forma adequada de interpretá-la? Essas são algumas das questões que serão abordadas neste minicurso.
2 – OBJETIVOS Analisar e debater uma tensão presente no constitucionalismo moderno desde a sua origem, qual seja: a relação entre Constituição e Democracia ou, ainda, entre a Política e o Direito. Este problema será analisado primeiramente a partir da gênese da discussão na Filosofia Política Moderna e num segundo momento centrar-se-á na Filosofia Constitucional Contemporânea.
3 – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1º dia - Aspectos históricos do Constitucionalismo;
2º dia-A tensão entre Constituição e Democracia em alguns textos/autores da Filosofia Política Moderna;
3º dia-A tensão entre Constituição e Democracia em alguns textos/autores da Filosofia Política Contemporânea;
4º dia-Democracia e Interpretação da Constituição
4 - BIBLIOGRAFIA
ARENDT, Hannah. Da revolução. São Paulo e Brasília: Ática & Editora UnB, 1990. BELZ, Herman. A Living Constitution or Fundamental Law? American Constitutionalism in Historical Perspective. Lanham et al.: Rowman & Littlefield, 1998
BERLIN, Isaiah. Dois Conceitos de Liberdade. In: Ensaios sobre a Humanidade – uma antologia de ensaios, Tradução de Rosaura Eichenberg, São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
BREYER, Stephen. Active Liberty. Interpreting Our Democratic Constitution. New York: Alfred Knopf, 2006.
CONSTANT, Benjamin. Da liberdade dos antigos comparada à liberdade dos modernos. In: Filosofia Política nº 2. Porto Alegre: LPM Editores, 1985. DWORKIN, Ronald. O Direito da Liberdade: a leitura moral da Constituição norte-americana. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 02.
________. O Império do Direito. Tradução Jefferson Luiz Camargo, São Paulo: Martins Fontes, 2003.
________. Is democracy possible here? New Jersey.Princeton University Press, 2006.
ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (eds.).Constitutionalism and Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 1988.
ELSTER, Jon. Ulysses Unbound. Studies in Rationality, Precommitment, and Constraints. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
___________. (ed.). Deliberative Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
___________. Ulises y las Sirenas: Estudios sobre la racionalidad e irracionalidad. Tradución de Juan José Utrilla, Fondo de Cultura Económica: México, 1989.
FERRAJOLI, Luigi. Principia iuris. Teoria del diritto e della democrazia. 2: Teoria della democrazia. Roma e Bari: Laterza, 2007.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia. Entre facticidade e validade. Trad. de F. B. Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
HABERMAS, Jürgen; DWORKIN, Ronald; GÜNTHER, Klaus. Impera el derecho sobre la política? In: La Política – Revista de estúdios sobre el Estado y la sociedad, Número 4, 1998, Octubre (Política y Derecho.Se oponen la democracia y el constitucionalismo?). Buenos Aires: Paidos, 1998..
HAMILTON, Alexander; JAY, John; MADISON, James. O Federalista. Tradução, introdução e notas de V. Soromenho-Marques e J. C. S. Duarte. Lisboa: Colibri, 2003.
HOLMES, Stephen. Passions and Constraint. On the Theory of Liberal Democracy. Chicago: Chicago University Press, 1995.
__________. Precommitment and the paradox of democracy. In: J. Elster/ R. Slagstad (Orgs.), Constitutionalism and Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 1988.
HUME, David. Ensaios Políticos. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
JEFFERSON, Thomas. Escritos políticos. São Paulo: Ibrasa, 1964.
__________. The Portable Thomas Jefferson. Edited by M. D. Peterson. Harmondsworth: Penguin, 1975.
KAY, Richard. American Constitutionalism. In: L. Alexander, (org.), Constitutionalism. Philosophical Foundations, Cambridge: Cambridge University Press, 1998, 16-63.
KELSEN, Hans. A democracia. 2. ed. Trad. Ivone Castilho Benedetti et al. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
MICHELMAN, Frank I. Brennan and Democracy. Princeton University Press: Princeton, New Jersey, 1999.
___________.Constitutional Authorship. In: L. Alexander (org.). Constitutionalism. Philosophical Foundations. Cambridge: Cambridge University Press, 1998, 64-98.
___________. Traces of Self-Government. Harvard Law Review, v. 100, n. 01, november 1986. MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat baron de.
Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores), 1973. __________. La paradoja democrática. Barcelona: Gedisa, 2003.
RAZ, Joseph. On the Authority and Interpretation of Constitutions. Some Preliminaries. In:
L. Alexander (org.). Constitutionalism. Philosophical Foundations. Cambridge: Cambridge University Press, 1998, 152-193.
RICHARDS, David A. J. Revolution and Constitutionalism in America. In: M. Rosenfeld (org.).
Constitutionalism, Identity, Difference, and Legitimacy. Durham and London: Duke University Press, 1994, 85-142.
SCHMITT, Carl. O conceito do político. Trad. Alvaro L. M. Valls. Petrópolis: Vozes, 1992.
______________. A crise da democracia parlamentar. Trad. Inês Lohbauer. São Paulo: Scritta, 1996.
_____. Teoria de la constituición. Trad. Francisco Ayala. Salamanca: Alianza Editorial, 1982.
SIEYÈS. Emmanuel Joseph. A Constituinte Burguesa: Qu’est-ce que le Tiers État? Org. e introd. Aurélio Wander Bastos, pref. de José Ribas Vieira, trad. de Norma Azeredo. Rio de Janeiro: Líber Júris, 1986.
URBINATI, Nadia. Representative Democracy. Principles and Genealogy. Chicago: Chicago University Press, 2006. VILE, M. J. C. Constitutionalism and the Separation of Powers. Indianapolis: Liberty Fund, 1998.
WALDRON, Jeremy. Precommitment and Disagreement. In: L. Alexander, (org.). Constitutionalism. Philosophical Foundations. Cambridge: Cambridge University Press, 1998, 271-299.
[1] Tanto autores favoráveis ao ideal democrático, como Frank Michelman, como aqueles que se posicionam pela exclusão dos direitos fundamentais do debate político, como Ronald Dworkin, apresentam, cada um a sua maneira, uma proposta cujo objetivo é demonstrar que é possível conciliar participação política e proteção a um núcleo duro de direitos.
3-A mercadoria, introdução a O Capital de Karl Marx.
Ministrante: Amaro Fleck (mestrando- UFSC)
Objetivo: Analisar o primeiro capítulo de O Capital, intitulado a mercadoria, capítulo chave uma vez que aí se apresentam as principais categorias da obra (mercadoria, bens, valor, valor-de-uso, valor-de-troca, trabalho concreto, trabalho abstrato, tempo socialmente necessário, fetichismo da mercadoria). Este capítulo é o mais conceitual do livro e serve como introdução - ao menos no sentido de que, sendo bem compreendido, facilita a leitura do restante da obra.
Aula 1:
1.1 - Lugar de O Capital na obra teórica de Karl Marx
- primeiras obras, obras de juventude, obras da maturidade
- crítica da filosofia (neo) hegeliana; escritos histórico-políticos; crítica da economia política
1.2 - Estrutura de O Capital e tentativa de situar o capítulo sobre a mercadoria
- estrutura lógica da sociedade burguesa e não história do capitalismo
- as categorias chave do sistema mais simples de circulação; complexificação ao longo da obra
1.3 - A idéia de Crítica da Economia Política
- porque criticar a economia política?
- a economia política como fundamento da sociedade burguesa
- a idéia de crítica, as contradições teóricas como sintomas de contradições reais
1.4 - Breve exposição da Economia Política Clássica (Smith)
- divisão do trabalho como motor do progresso social
- teoria do valor-trabalho
- as partes do valor da mercadoria (salário do trabalho, lucro do estoque, renda da terra)
Aula 2:
2.1: Os dois fatores da mercadoria: valor-de-uso e valor (13 - 22)
2.2: O duplo caráter do trabalho apresentado na mercadoria (23 – 31)
Conceitos chave: Mercadoria, bens, o caráter duplo da mercadoria, Valor-de-uso e valor-de-troca, trabalho, o caráter duplo do trabalho, trabalho concreto e trabalho abstrato
Aula 3:
3.1: A forma de valor ou o valor de troca (31 – 67)
Conceitos chave: dinheiro, magnitude do valor, forma do valor, substância do valor.
Aula 4:
4.1: O fetichismo da mercadoria, seu segredo (67 – 85)
Breve exposição de dois conceitos chave que aparecerão depois, Capital e Mais-Valia.
Conceitos chave: fetichismo, sujeito automático, capital, “valorização do valor”.
Texto a ser utilizado:
MARX, Karl. A Mercadoria. Tradução e Comentários de Jorge Grespan. São Paulo: Ática, 2006.
4-Mini curso: A construção dos conjuntos numéricos em Zermelo-Fraenkel
Ministrantes: Fernando T. F. Moraes (mestrando -UFSC)
Jonas R. B. Arenhart (doutorando-UFSC)
Objetivos específicos
O objetivo deste mini curso é apresentar, ainda que sem nos aprofundarmos em todos os tópicos, uma das várias maneiras através das quais é possível construir, na teoria de conjuntos Zermelo-Fraenkel, coleções que representem os números naturais, números inteiros, números racionais e números reais. Apresentaremos as definições das operações usuais sobre estes conjuntos, e também mostraremos como algumas de suas propriedades podem ser demonstradas.
Objetivos gerais
Como este tipo de tópico, em geral, não é tratado no curso de graduação, temos como objetivo também realizar um primeiro contato com o tema, sua importância e seu desenvolvimento em linhas gerais. O conhecimento deste tipo de construção é de grande relevância para os filósofos atualmente, pois desempenha papel importante em discussões de diversas áreas da filosofia, como por exemplo, em filosofia da ciência, ontologia, filosofia da matemática e filosofia da lógica. Assim, travar contato com estes tópicos, mesmo que sem todos os detalhes, poderá contribuir para a melhor compreensão de certas discussões atuais em filosofia.
Plano de apresentação
Dividiremos o mini curso em duas partes. A primeira parte consistirá na apresentação de alguns desenvolvimentos da teoria de conjuntos que servem como pré-requisitos para as construções desejadas. Nesta primeira etapa trataremos brevemente da apresentação de alguns dos axiomas de Zermelo-Fraenkel, do desenvolvimento da álgebra dos conjuntos, onde serão definidas as principais operações entre eles, e dos conceitos de relação e de função, com suas principais propriedades que serão utilizadas para nossos propósitos. Na segunda parte do curso trataremos da construção dos conjuntos numéricos propriamente ditos. Aqui faremos uso intenso das ferramentas desenvolvidas na primeira parte do curso. Iniciaremos com a construção do conjunto dos números naturais. Serão definidas as operações de soma e produto entre números naturais, bem como a relação de ordem entre números naturais, e algumas de suas propriedades serão demonstradas. Do conjunto dos números naturais obtido, poderemos efetuar a construção do conjunto dos números inteiros, com suas respectivas operações. Novamente, apresentaremos algumas das principais propriedades destes números, demonstrando algumas delas. A partir do conjunto dos números inteiros, mostraremos como podemos obter o conjunto dos números racionais, com as respectivas definições das operações aritméticas. Tudo isso feito, daremos nosso último salto em direção à construção do conjunto dos números reais, que serão definidos através dos cortes de Dedekind. Mostraremos como definir as operações usuais sobre números reais e como algumas de suas propriedades podem ser demonstradas.
Bibliografia:
ENDERTON, H. B, 1977, Elements of Set Theory, Academic Press
FRANCO DE OLIVEIRA, A. J, 1982, Teoria de Conjuntos, intuitiva e axiomática (ZFC) Livraria Escolar Editora, Lisboa
HALMOS, P. R, 2001, Teoria Ingênua dos Conjuntos
5-MINICURSO: Nietzsche e Wittgenstein: reflexões e convergênciasMinistrantes: Renato Nunes Bittencourt (PPGF-UFRJ) – renunbitt@yahoo.com.brProf.ª Daiane Martins Rocha (UCAM) – daiane.mar@gmail.comObjetivos gerais: Demonstrar possíveis convergências axiológicas entre os escritos de Nietzsche e Wittgenstein.
Objetivos específicos: Examinar as contribuições desses autores à discussão filosófica acerca de temas como ética/moral normativa, linguagem, ética e estética, explorando ainda o debate a respeito do progresso e da visão cientificista de mundo.
Cronograma:
01/09 – terça-feira
- o problema da ética/moralidade normativa: a crítica ao “tu deves” em Nietzsche e Wittgenstein
02/09 – quarta-feira
- a crítica da linguagem: objeções de Nietzsche ao realismo platônico da linguagem; linguagem e mundo em Wittgenstein e crítica à concepção agostiniana de linguagem.
03/09 – quinta-feira
- relações entre ética e estética: o caráter indissociável da ética e estética em Nietzsche e Wittgenstein.
04/09 - sexta-feira
- crítica à noção de progresso: Nietzsche e suas objeções a uma possível teleologia da história; Wittgenstein e a crítica à ciência; idéia de ordenação científica do mundo.
Bibliografia:
NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo / Ditirambos de Dionísio. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
___________. Genealogia da Moral. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo:
Companhia das Letras, 1999.
___________. Segunda consideração intempestiva. Trad. de Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.
___________. Sobre Verdade e Mentira no sentido extra-moral. Trad. de Fernando de Moraes Barros. São Paulo: Hedra, 2007.
WITTGENSTEIN, L. Tractatus Logico-Philosophicus. Tradução de Luiz Henrique Lopes dos Santos. São Paulo: Edusp, 2001.
_________________. Conferência Sobre Ética. In: DALL’AGNOL, Darlei. Ética e Linguagem: uma Introdução ao Tractatus de Wittgenstein, 4a Edição, Florianópolis: Edufsc, 2007.
_________________. Cultura e Valor. Tradução de Jorge Mendes. Edições 70, 1980.
_________________. Investigações Filosóficas (Trad. Marcos G. Montagnoli). São Paulo: Nova Cultural, 1999.
Husserl e a tradição fenomenológica
Doutorandos UFSC: Elizia Cristina Ferreira, Luis Felipe Netto Lauer e Vanessa Furtado Fontana
Supervisor: Prof. Dr. Marcos José Müller-Granzotto
Resumo: O mini-curso se baseará em dois eixos principais: primeiramente, tratará de temas gerais da fenomenologia iniciada por Edmund Husserl. O enfoque principal será dado aos conceitos de eu puro, intencionalidade, redução, essências e idealismo transcendental. Estes formam a estrutura conceitual geral da fenomenologia e, a partir deles, outros poderão ser introduzidos e explorados. Em segundo lugar, procurar-se-á traçar as linhas de aproximação e distanciamento entre as teses do precurssor da fenomenologia e a de seus herdeiros – salvo a brevidade necessária de tais lucubrações – entre os quais serão trabalhados Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. A compreensão da ciência fenomenológica de Husserl é imprescindível aos estudos dos filósofos herdeiros de sua filosofia. Entretanto, apesar das infuências e referências ao fundador da fenomenologia, eles devem ser lidos como críticos de sua extensa obra.
Objetivos gerais:
• Introdução aos principais conceitos da fenomenologia de Edmund Husserl e seus herdeiros, Merleau-Ponty, Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger;
• Exposição das teses gerais com recuperação dos conceitos em obras específicas. Enfoque de análise das obras principais e mais conhecidas, com objetivo geral de elucidar e discutir tais teses;
• Discutir o que é a fenomenologia, quais as críticas e modificações exigidas entre os adeptos. Objetivos específicos:
• Apresentar os conceitos de atitude natural e a passagem a atitude transcendental por meio da redução fenomenológica e da intencionalidade da consciência em Husserl;
• Discutir o estatuto do eu puro e do idealismo transcendental husserliano; • Releitura heideggeriana do conceito de intencionalidade e suas implicações ontológicas;
• Apresentar os conceitos de imaginação e irrealidade tanto em Husserl como em Sartre. Como pensar uma possível estética fenomenológica em Husserl. O imaginário em Sartre como negação do mundo: uma ontologia negativa da arte;
• Expor o encaminhamento merleau-pontyano da redução fenomenológica a partir dos seus conceitos de reflexão e irrefletido e discutir suas definições de corpo e percepção daí derivadas;
TÓPICOS DO CURSO
1° dia
O que é a fenomenologia? Quais características dessa nova ciência? O fundamento da fenomenologia. O método da redução. Atitude natural, atitude transcendental e o idealismo. O que é a consciência na fenomenologia? Crítica ao psicologismo. A transcendentalidade da consciência. Eu puro. O vivido intencional: diferença entre o vivido psicológico transcendente e vivido absoluto transcendental. Estrutura geral da consciência: a intencionalidade e a divisão noese e noema (vivido intencional e correlato). Material (húle) e intencional (morphé) da vivência. Os modos noéticos: percepção como presentação e presentificações: imaginação. Essência (Eidos ou Wesen) e fato. Intuição empírica e intuição de essências. O idealismo transcendental.
2° dia
Tomando o conceito de intencionalidade como ponto de partida e fio condutor das investigações fenomenológicas de Edmund Husserl e Martin Heidegger, intentaremos sua análise com a finalidade de explicitar o problema metodológico fundamental acerca do modo de abrir cientificamente a esfera dos vividos (Erlebnis) na fenomenologia. Para Husserl, a esfera dos vividos é a do ego puro ou consciência pura, e a intencionalidade é compreendida como intencionalidade da consciência; em Heidegger, trata-se do que denominou vida ou existência fáctica do ser-aí (Dasein), em que a intencionalidade designa o tipo de comportamento que a existência humana mantém em relação a si e para com o mundo. Neste confronto crítico entre as duas posições, salientaremos o modo fenomenológico de conceber o campo do formal e, em decorrência disto, a preocupação heideggeriana com as insuficiências da atitude teorética, cujo desdobramento imediato é uma investigação acerca da natureza e da formação dos conceitos e enunciados filosóficos.
3° dia
Breve exposição da obra Transcendência do ego. Ser no mundo: Je e Moi, irreflexão e reflexão. Crítica à Husserl: É necessário um Eu transcendental atrás de cada consciência? Comentários gerais sobre a obra "L'être et le neant". O que significa uma ontologia fenomenológica. O resgate do mundo. O monismo do fenômeno. Ser-em-si e ser-para-si. O nada e as negações. A fenomenologia das três dimensões temporais: passado, presente e futuro. O tempo psíquico e o tempo original. Imaginação em Husserl: A novidade com a tradição. Atitude perceptiva e a imaginativa. Consciência de imagem e Fantasia. Temporalidade e imaginação. Conceito de presentificação: simples e neutralizada. Quasi-presença. Realidade imaginante e irrealidade da imagem. Intuição imaginária e preenchimento fantasmado. Imaginação em Sartre: A intencionalidade de Husserl. A imagem é uma consciência. Consciência imaginante-imaginária. A magia e liberdade da imaginação. A fuga do real: negação da opacidade do mundo. Imagens do sonho, signo e alucinação. Consequências estéticas: o idealismo da arte na fenomenologia de Husserl. A pintura não é falseamento do mundo. A fantasia criadora - liberdade e espontaneidade. Proximidade entre arte e matemática. A significação (sentido) na arte. Sartre: Toda arte se dá por imagem. Pintura e literatura. O belo fenomenológico.
4° dia
Leitura e discussão do prefácio à “Fenomenologia da Percepção” de Maurice Merleau-Ponty com o objetivo de averiguar o encaminhamento dado por este autor aos temas da redução fenomenológica e da atitude natural. Análise da sua proposta de um modelo autêntico de reflexão filosófica ciente de sua comunhão com um irrefletido e das definições de corpo e percepção daí derivadas.
REFERÊNCIAS
DESCARTES, René. Meditações metafísicas. Tradução Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
______. Regras para a orientação do espírito. Tradução Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
HEIDEGGER, Martin. Interpretaciones fenomenológicas sobre Aristóteles: indicación de la situación hermenéutica [Informe Natorp]. Traducción de Jesús Adrián Escudero. Madrid: Trotta, 2002a.
______. La Idea de la filosofía y el problema de la concepción del mundo. Traducción de Jesús Adrián Escudero. Barcelona: Herder, 2005b.
______. Phenomenologiacal interpretations of Aristotle: initiation into phenomenological research. Translated by Rchard Rojcewicz. Bloomington: Indiana University Press, 2001.
______. The phenomenology of religious life. Translated by Matthias Fritsch and Jennifer Anna Gosetti-Ferencei. Bloomington: Indiana University Press, 2004. HUSSERL, Edmund. Idées directrices pour une phenomenologie et une philosophie phenoménologique pures. Tome premier: introduction générale a la phenomenologie pure. Tradução do alemão por Paul Ricoeur. Paris: Gallimard, 1950.
______. Investigações lógicas. Primeiro volume: Prolegómenos à lógica pura. Trad. Diogo Ferrer e direcção de Pedro M. S. Alves. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2005.
______. Investigações lógicas. Segundo volume, parte I: Investigações para a fenomenologia e a teoria do conhecimento.Trad. Pedro M. S. Alves e Carlos Aurélio Morujão. Direcção de Pedro M. S. Alves. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2007.
______. Investigações lógicas. Terceiro volume, parte II: Investigações para a fenomenologia e a teoria do conhecimento.Trad. de Carlos Aurélio Morujão. Direcção de Pedro M. S. Alves. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2007.
______. Leçons pour une phénoménologie de la conscience intime du temps. Traduzido por Henri Dussort. Paris: PUF, 1996.
______. Phantasia, conscience d'image, souvenir. De la phénomenologie des présentifications intuitives. Textes posthumes (1898-1925). Trad. Raymond Kassis et Jean-Francois Pestureau. Paris: Editions Jérôme Millon, 2002. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução de Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
______. Crítica da faculdade do juízo. Tradução de Valério Rohden e Antônio Marques. 2ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução Carlos Alberto Riberio de Moura. 3ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
______. Phénoménologie de la percetion. [s.l.]: Éditions Gallimard, 1945. ______. O visível e o invisível. Tradução: José Artur Gianotti e Armando Mora d’Oliveira. 4ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. MOURA, Carlos Alberto Ribeiro. Racionalidade e crise. Ensaios de história de filosofia moderna e contemporânea. São Paulo: Discurso Editorial e Editora da UFPR, 2001. (p. 237-269)
MOUTINHO, Luiz Damon Santos. O sensível e o inteligível: Merleau-Ponty e o problema da racionalidade. Kriterion, Belo Horizonte, v.XLV, n. 110, p.264-293, 2004.
MÜLLER, Marcos José. Merleau-Ponty: acerca da expressão. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. SARTRE, Jean-Paul. A imaginação. In Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
______. A transcendência do ego. Trad. Pedro M. S. Alves. Lisboa: Edições Colibri, 1994.
______. L'être et le néant: essai d'ontologie phénoménologique. Paris: éditions Gallimard, 1997.
______. L’imaginaire. Phychologie phénoménologique de l’imagination. Paris: Gallimard, 1986.
______. Uma idéia fundamental da fenomenologia de Husserl: a intencionalidade. In:
______. Situações I. Críticas Literárias. Trad. Cristina Prado. São Paulo: Cosac Naify, 2005.